segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Protesto deixa um quarto dos postos sem combustível em Minas Gerais.

Praticamente um quarto dos 3.814 postos de combustíveis de Minas Gerais estão enfrentando dificuldades de abastecimento. Desde a madrugada de quinta-feira, centenas de caminhões-tanque, responsáveis pelo transporte para a revenda, estão parados na porta da BR Distribuidora localizada em Betim, na Grande BH, em um protesto por reajuste de 30% no valor do frete, pagamento de diárias por tempo parado, entre outras reivindicações. “Fizemos um enterro simbólico para mostrar que a Petrobras está matando o transportador. Se não há pagamento justo do frete não há renovação da frota e dificulta a manutenção, o que tem levado a vários casos de acidente”, afirma Juarez Alvarenga Lage, presidente do Sindicato dos Tanqueiros (Sindtanque) de Minas Gerais. Para Sérgio de Mattos, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), o grande problema agora está nas mãos dos revendedores. “Somente a Petrobras detém 24,4% do mercado mineiro de revenda de combustíveis e nessa situação a imagem dos postos sai desgastada porque na falta de combustível os consumidores vão procurar outro lugar”, avalia. Sérgio garante que não haverá um desabastecimento generalizado já que outras bandeiras como Shell, Ale, Cosan e Ipiranga possuem centrais de distribuição própria. “Mas no caso dos postos BR não terá jeito. O consumidor deve entender de que se trata de um problema na distribuição e não na revenda”, explica. Compreensão que Raquel Mesquita, gerente do Posto Oitenta e Três no bairro Cidade Nova, não encontra na maioria dos clientes. “Eles acham que a culpa é nossa. Explicamos a situação, mas mesmo assim tem muitas pessoas intolerantes. Essa situação é péssima para a imagem do estabelecimento”, avalia. No caso da fisioterapeuta Adriana Silveira Vaz de Melo a alternativa para não sair com o tanque vazio foi colocar álcool. “Ouvi no rádio notícia sobre a manifestação mas não imaginava que o consumidor sentiria o problema tão rápido. Eu ainda tenho opção, pois meu carro é flex, mas imagina quem não tem”, avalia. Desde a manhã de quinta-feira as bombas de gasolina do Posto Oitenta e Três estão vazias e a previsão era de que hoje álcool e diesel também acabassem. “Tinha um pedido de 5 mil litros de gasolina que não chegou e mais 5 mil de álcool e gasolina para passar o fim de semana. Se continuar assim, vou ter que dispensar os nove frentistas e fechar o posto, amargando um prejuízo diário de mais de R$ 20 mil”, afirma. No Posto Maquiné, localizado na BR-262, a situação é inversa, o diesel é que já está em falta. “Vendemos 10 mil litros por dia e fazemos pedidos diários. Ligamos para saber por que não teve entrega hoje e nos falaram sobre a paralisação, mas sem nenhuma previsão de restabelecimento do serviço”, reclama o chefe de pista Renilton da Silva. O resultado de apenas um dia de interrupção do abastecimento é um rombo de quase R$ 30 mil no caixa. “E não tem muito tempo que situação parecida ocorreu. Há poucos meses fomos atingidos pelo mesmo problema e ninguém ressarce os nossos prejuízos”, lamenta. Em nota, a Petrobras garantiu que as negociações estão em andamento. “A Petrobras Distribuidora informa que sua relação comercial é diretamente com as empresas transportadoras, que já foram acionadas com o objetivo de assegurar o atendimento aos clientes”. A paralisação também está prejudicando as operações da Refinaria Gabriel Passos (Regap) que já apresenta pequenos atrasos na distribuição de alguns produtos, como asfalto, que é feita por caminhões. Através da assessoria de imprensa, a empresa informou que não possui contrato direto com os tanqueiros mas que, devido à movimentação na porta da refinaria, há dificuldade no transporte. A Regap garantiu que, por enquanto, está produzindo normalmente, mas, caso a situação permaneça, poderá haver retração, já que não produzem para estocagem. No início de agosto o Sindtanque paralisou mais de mil caminhões na porta das distribuidoras Ale e FIC também em Betim para reivindicar os mesmos benefícios, causando desabastecimento em, pelo menos, 120 postos mineiros. “Enviamos em julho um comunicado para todas as distribuidoras para negociação dos valores do frete e pagamento de diária. Aquelas que não se manifestaram foram alvo das paralisações”, afirma Juarez. Além de Ale e FIC, a Ipiranga também já negociou com os tanqueiros. “Conseguimos o reajuste em todas elas e, manteremos a suspensão do transporte na BR Distribuidora por tempo indeterminado até que a situação se resolva”, afirma.
FONTE: Paula Takahashi - Estado de Minas